Mansão Figner passou por reforma e foi reaberta na sexta-feira, com exposição de obras dos artistas Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues e mural de Miguel Afa.
O Sesc RJ reabriu, dia 28 de janeiro, o Espaço Cultural Arte Sesc, localizado na Mansão Figner, no bairro do Flamengo. O casarão de estilo eclético localizado em frente à sede administrativa da Fecomércio RJ, e que foi moradia do pioneiro da indústria fonográfica no Brasil, passou por uma reforma estrutural, restauração e está apto a receber exposições artísticas. A mostra inaugural é “Notícias do Brasil: Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues”.
Além das exposições, o local contará com atividades educativas destinadas ao público adulto e infantil. O espaço cultural do Sesc RJ ganhará também um bistrô com cardápio assinado pelo chef Frédéric Monier.
“A reabertura da unidade Arte Sesc significa proporcionar ao público o acesso a um patrimônio histórico da cidade e também mais uma opção de lazer e cultura para as pessoas que circulam diariamente pela região“, afirma o presidente do Sistema Fecomércio RJ (Sesc RJ e Senac RJ), Antonio Florencio de Queiroz Junior.
Com curadoria de Marcelo Campos e Pollyana Quintella, a exposição de inauguração é composta por 48 gravuras assinadas por esses artistas e pertencentes à coleção do Sesc RJ. A proposta da mostra é provocar a reflexão sobre a visão identitária que acompanhou o modernismo brasileiro no ano em que se comemora os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. No conjunto das obras, afirma o curador, é possível perceber um Brasil de forte tradição popular, nas festas, nas relações interétnicas, nas vendedoras de tabuleiro, nas janelas e sacadas dos sobrados coloniais.
“Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues noticiaram um Brasil por entre as frestas das janelas, nas praças públicas, nas festas de largo. E, assim, escancararam singularidades étnico-raciais, tanto em personagens quanto nos fatos culturais que vão das tradições afro-religiosas, do catolicismo popular à prostituição. Esses artistas perceberam que o país do futuro já se desenhava pelos avessos da história. Seus heróis advêm do povo. Seus afetos se revelam através das janelas, nos interiores das casas. Suas praças são repletas de comércios informais, vendedoras de acarajé, na compra e venda do pescado”, reflete Marcelo Campos.
Outros recortes curatoriais
A coleção do Sesc RJ conta com mais de uma centena de obras espalhadas em suas unidades no estado. Elas serão catalogadas, higienizadas e acondicionadas em salas apropriadas na sede do Flamengo de modo a permitir a continuidade das pesquisas em torno do acervo.
“Poder se debruçar sobre a coleção de obras de arte do Sesc RJ é vislumbrar um acervo que apresenta nomes notáveis da arte brasileira, principalmente, em torno de gravuras”, aponta o curador Marcelo Campos, que também está responsável por criar recortes curatoriais que serão levados adiante a partir desta primeira exposição.
Mural de 30 metros de Miguel Afa e Trio Julio
Além da exposição “Notícias do Brasil: Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues”, o público poderá contemplar, na área externa do casarão, um mural com cerca de 30 metros de autoria do jovem artista carioca Miguel Afa. Na obra, ele retrata o cotidiano de criação de seu filho por um pai negro.
“A relação entre pais e filhos, no Brasil, não se dá de modo tão regular e horizontal. Somos um país onde a paternidade desconhecida alcança altos índices. Miguel Afa, ao contrário das estatísticas, retrata um pai que acolhe, coloca o filho nas costas, o ensina a tocar violão, a ler e escrever”, observa o curador.
Mansão foi moradia do pioneiro da indústria fonográfica brasileira
Construída em 1912, a mansão tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) foi moradia do empresário tcheco Frederico Figner (1866-1947), pioneiro da indústria fonográfica no Brasil. Ele foi o fundador da Casa Edison, que revendia equipamentos de som e luz como fonógrafos, gramofones e kinetoscópios, e criador da primeira gravadora musical do Brasil, a Odeon.